Excesso de telas e excesso de siglas: Estamos rotulando demais as crianças?
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O excesso de telas pode impactar o desenvolvimento infantil e confundir sinais naturais com sintomas clínicos. |
Você já teve a sensação de que hoje em dia toda criança recebe um diagnóstico?
TDAH, TOD, TOC, TEA... A cada dia surgem mais siglas em laudos médicos, e muitas famílias estão confusas, cansadas ou preocupadas com o que tudo isso significa.
Mas será que isso tem relação com o excesso de telas na infância?
Vamos refletir juntas sobre esse assunto tão delicado e urgente.
O que são “telas”? Não estamos falando só de celular!
Quando falamos em "telas", muitas pessoas pensam apenas no celular. Mas o termo abrange:
• Televisão
• Tablets
• Computadores
• Videogames
• Celulares
Esses dispositivos fazem parte da nossa rotina, e muitas vezes são usados como apoio para entreter as crianças enquanto os adultos cuidam de outras tarefas (o que é totalmente compreensível!).
No entanto, o uso excessivo e sem mediação pode trazer consequências importantes para o desenvolvimento infantil.
O impacto do excesso de telas na infância
Nos primeiros anos de vida, o cérebro da criança está em formação acelerada. É nesse período que se constroem as bases da linguagem, da atenção, da empatia e das habilidades cognitivas.
O uso excessivo de telas pode afetar diretamente:
• Atenção e concentração (aumentando comportamentos agitados ou desorganizados)
• Desenvolvimento da linguagem oral
• Sono e ritmo biológico
• Interação social e criatividade
É claro que não são as telas que "causam" diagnósticos como TDAH ou TOD. Mas o ambiente e os estímulos têm papel fundamental em acentuar ou aliviar comportamentos que muitas vezes são confundidos com transtornos.
Diagnóstico ou rótulo? A linha tênue
Com o aumento da informação e do acesso a profissionais, é natural que mais crianças sejam avaliadas. Isso é positivo, quando feito com responsabilidade.
O problema é quando começamos a ver diagnósticos precipitados e sem análise profunda do contexto familiar, emocional e pedagógico.
Nem toda criança inquieta tem TDAH. Nem toda criança resistente tem TOD.
Antes de um laudo, é preciso escuta, observação e compreensão.
E quando não temos rede de apoio?
Esse é um ponto importantíssimo. Muitas mães, como eu e tantas outras, não têm com quem contar.
Às vezes, a televisão é a única forma de conseguir preparar uma refeição ou tomar banho.
E está tudo bem! Não é sobre culpa, é sobre consciência e busca por equilíbrio.
Não existe mãe perfeita. Existe mãe real, que faz o melhor com o que tem.
Caminhos possíveis: entre o cuidado e o excesso
• Promover momentos de brincadeiras livres, com objetos reais e sem telas
• Estabelecer rotina com pausas para movimento, natureza e interação
• Mediar o uso de telas com conteúdo educativo e tempo controlado
• Buscar avaliação profissional quando há prejuízos reais, não só por comparação com outras crianças
• Trabalhar em conjunto com escola, família e, se necessário, terapeutas
Conclusão: nem vilão, nem rótulo, só consciência
As telas estão presentes, os diagnósticos também.
O que precisamos é de olhar atento e empático, tanto com as crianças quanto com quem cuida delas.
Não podemos cair no erro de culpar o celular por tudo, nem de classificar qualquer comportamento fora do “esperado” como transtorno.
Cuidar é mais do que rotular. É compreender, acolher e buscar caminhos com amor e conhecimento.
Quer aprofundar esse tema?
Leia também:
👉Barreiras enfrentadas por autistas na comunicação e aprendizado, e como superá-las com tecnologiaReferências
BRUNER, Jerome. A cultura da educação. Artmed, 2001.
FONSECA, Victor da. TDAH: Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade. WAK Editora, 2017.
SACKS, Oliver. O cérebro em movimento: histórias da neurologia. Companhia das Letras, 2009.
APA – American Psychiatric Association. DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Artmed, 2014.
Sociedade Brasileira de Pediatria. (2020). Manual de orientação: Saúde de crianças e adolescentes na era digital.
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